Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 6 de maio de 2016


O dia seguinte para Cunha. A antevéspera de Temer. Antecipação da saída de Dilma, ela fica até quarta feira.

HELIO FERNANDES

Ontem, quinta, comecei a escrever e relatar o que acontecia de 8 da manhã ás 8 da noite. Foi um dia surpreendente para todo o país, incluindo os meios de comunicação. Impressos ou da nova e revolucionária forma de expressão. Todos os mais atentos, informados  e  preocupados repórteres,foram dormir sem saber de  nada e acordaram com a mesma desinformação. (Naturalmente este repórter incluído. Mas comecei a trabalhar imediatamente, (exigindo mais de mim e de informantes).

Para dar um exemplo da falta de informação, vou contar com exclusividade completa, episodio que envolveu Temer e  Cunha, com uma diferença de 12 horas

Na quarta feira, anteontem, Cunha, presidente da Câmara, chegava ao Jaburu por volta das 9 da noite, saudado como habitualmente. Articulou com a falta de respeito de sempre. Levava o nome de 6 deputados de 4 partidos, todos pertencentes á antiga base parlamentar da presidente Dilma. Pretendia "emplacar" três como Ministros. Saiu exatamente á meia noite, deixou a lista com Temer, com a recomendação, "todos de total confiança e lealdade".

Normalmente acorda cedo, mas ontem praticamente tirado da cama pelo oficial de Justiça, que trabalha no Supremo. Antes das 8 da manhã, soube pelo documento, que estava afastado da presidência da Câmara, e suspenso da condição de deputado. Pela primeira vez apavorado, chamou os advogados. Complicações as mais diversas. 

Só ao meio dia, teve tempo de ligar para Temer no Jaburu. Quem atendeu foi o senador Jucá já sabia de tudo. Voltou com o recado: "O Temer não quer falar no telefone". E desligou. Isso mostra a desconsideração geral, e a velocidade dos acontecimentos. 

Cunha, mesmo isolado e "desprocurado" por quase todos, não perdeu a arrogância, a petulância e até a imprudência, deu entrevista coletiva estabanada. Deixou a impressão que acreditava que nada mudara. E a primeira afirmação. Mesmo seus advogados dizendo, "o senhor só pode recorrer para o Supremo", confirmava: "È obvio que vou recorrer".

Textual: "Fui denunciado pelo Procurador Janot, que tem uma desavença comigo". Não é desavença, e sim a diferença que separa um calhorda corrupto e sem caráter, e outro que tem 33 anos de serviço publico. E uma carreira construída com trabalho, competência e respeito. Respondendo a uma pergunta: "Não vou renunciar de jeito algum". 

Não é verdade. Trabalha e negocia para voltar á presidência. Mas é só fachada. O que pretende mesmo é repetir Renan Calheiros de 2007. Deixa a presidência, mas não perde o mandato. Não quero defender o senador, mas seu caso era inteiramente diferente.

Temer se considera vitorioso no episodio 

E não deixa de ser. Tinha compromissos com Cunha, que ele se mantendo na presidência da Câmara, precisava cumprir. Agora se sente completamente livre. E considera que não vai encontrá-lo em lugar algum. Falaram que Cunha é "bem homem de ir á posse", deu uma gargalhada de desprezo, se o seu habitual. Preocupação do momento, que era uma, aumentou.

Estava assustado com o "resto" do ministério. É assim que se refere aos ministros que ainda tem que negociar para nomear. São 10 ou 12 ministros, quase todos do segundo time e até do terceiro. Ontem e marcou encontros para hoje, precisa resolver o novo problema: a eleição do presidente da Câmara.

Não tem a menor confiança no vice de Cunha Essa falta de confiança num vice, é antropofágica. A Câmara não pode ser presidida por um interino. Esquece que é vice e vai presidir a República, também interinamente.


Mas quem escolher para o lugar de Cunha? Na campanha para o impeachment, conheceu quase a Câmara inteira. Mas o que irritou profundamente o vice na ascensão da traição, foi à resposta de Cunha a Dilma: “Ela vai conhecer o país que vai surgir a partir de quarta feira". Preocupação no Jaburu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário