Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019


A VÉSPERA DO AI 5 E A SUA CONCRETIZAÇÃO

HELIO FERNANDES

No dia 12 de dezembro de 1968, a Comissão de Constituição e Justiça
presidida pelo notável Djalma Marinho, se reuniu para cassar o mandato
do bravo Marcio Moreira Alves. Acontece que o Marcito foi absolvido,
provocando um tremendo pandemônio.

Os generais que acompanhavam a votação e tinham como certo que a
cassação seria consumada, derrotados, queriam resolver tudo no mesmo
dia, praticamente já à noite.

Numa das raras vezes que fui a Brasília, tenho que incluir essa em
homenagem ao meu grande amigo Djalma. Fui com Rafael de Almeida
Magalhães e assistimos o espetáculo inesperado da derrota dos generais
torturadores.

Telefonaram para o general Costa e Silva, que estava no Rio. Não
atendeu nenhum telefonema, e deu ordens ao General Portela, chefe da
Casa Militar: "Só tratarei do assunto amanhã e estou convocando uma
reunião ministerial para amanhã as 9 horas da manhã."

Os Generais em Brasilia ficaram furiosos mas tiveram que atender a
ordem do "Presidente". O AI 5 já estava pronto, mandado redigir pelo
Ministro da Justiça Gama e Silva. A reunião começou às 9 em ponto, com
todos os ministros presentes. Antes da hora do almoço já estava tudo
decidido, o AI 5 entraria em vigor com decisão unânime. Destaque para
o voto do Coronel Ministro Jarbas Passarinho: "Detesto dizer isso, mas
voto a favor do AI 5 com plena consciência de que estou servindo ao
meu país."

A caça às bruxas foi terrível. Quem estava em liberdade foi preso
imediatamente, o que aconteceu comigo. Fui levado para o Regimento
Caetano de Farias, onde já estava meu grande amigo jornalista Oswaldo
Peralva, editor do Correio da Manhã. Ficamos a noite toda conversando.

No dia seguinte, chegou Mario Lago, que estava trabalhando no Teatro
Princesa Izabel, seu personagem era um escocês e ele estava com a
roupa característica desse povo. Como existiam outros presos que nós
não conhecíamos, ele foi logo falando: "Aqui só quem me conhece é o
Helio e o Peralva, que já estiveram presos comigo. Eu estou com essa
roupa, mas não sou veado." (naquela época, há mais de 50 anos, a
palavra gay estava longe de existir). No dia seguinte, chegou o Carlos
Lacerda.

Ficamos presos até o dia 6 de janeiro, Dia de Reis. Os Generais eram
torturadores, mas muito católicos, então mandaram nos soltar.

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