O AMBIENTE
CONSTITUCIONAL
DESPEDAÇADO MAS
ATUANTE
HELIO FERNANDES
UM GRUPO
COMANDADO POR BOLSONARO, SEM SAIR DO ALVORADA, SEM IR AO PLANALTO,
PRETENDE E TENTA MUDAR A CONSTITUIÇÃO.
DA ATUAL, COM TRÊS
PODERES, PREFERE OUTRA COM APENAS UM PODER. CHEFIADO POR ELE, AUTORITÁRIO,
ARBITRÁRIO, ATRABILIÁRIO.
SABE MUITO BEM QUE A
FORMA MAIS RÁPIDA E EFICIENTE É A DA SUBLEVAÇÃO MILITAR.
(EM UMA DAS MINHAS 37
PRISÕES DO GOLPE DE 64, FIQUEI 1 MÊS NA POLÍCIA DO
EXERCITO, ONDE MAIS TARDE, ALOJARIAM O TENEBROSO E TERRORISTA
DOI-CODI.
NA HORA DO BANHO
DE SOL, OFICIAIS, CRUZAVAM COMIGO, SUSSURRAVAM: ''RESISTE,
HELIO, ESTAMOS COM VOCÊ”, CAMINHAMOS NO MESMO SENTIDO. MAS A DEMOCRACIA
SERÁ MANTIDA.
PS-
BOLSONARO NÃO TEM CACIFE NEM GABARITO.
GILMAR DO STF
NÃO ESTÁ NEM UM POUCO
PREOCUPADO COM PUNIÇÃO.
CUMPRIU SEU DEVER,
DEFENDEU CORAJOSAMENTE, A CONSTITUIÇÃO E A DEMOCRACIA.
O
PRESIDENTE NORONHA, DO STJ, É A IMAGEM DO DESALENTO, DESESPERO,
DESESPERANÇA. LIBERTOU A MULHER DO QUEIROZ, QUE ESTAVA FORAGIDA.
NUNCA NO ATUAL
JUDICIÁRIO, HAVIA ACONTECIDO FATO IGUAL.
CONSELHO-ADVERTÊNCIA DE SALAZAR A JK: "PRESIDENTE NÃO FAÇA REFORMA CAMBIAL, NEM ADMITA QUALQUER MUDANÇA NO BANCO CENTRAL", 59 ANOS DEPOIS, OS DOIS FATOS CONTINUAM ATUALÍSSIMOS
HELIO FERNANDES
Reprise:
Mocissimo, meu
primeiro trabalho jornalístico importante, foi cobrir a constituinte de 45 que
discutiu, votou e promulgou a Constituição de 46. Eu era secretário-adjunto de
"O Cruzeiro", o cargo de editor ainda não chegara ao Brasil. Foi
trazido pelo notável jornalista Pompeu de Souza, que morou anos nos EUA e na
Inglaterra.
Comecei
praticamente toda uma geração de políticos, de varias tendências, mas
inegavelmente superiores aos de agora. Naturalmente com as exceções de praxe.
Fiz ótimo relacionamento, construí pontes e amizades. Um deles, o então
deputado Juscelino Kubitschek. Em 1950 foi eleito governador de Minas,em 1954,
candidato a presidente.
Um dia me
telefonou Horácio de Carvalho, diretor-proprietário do Diário Carioca,jornal
que eu dirigiria mais tarde. Queria me convidar para almoçar no seu apartamento
da Avenida Atlântica, a pedido do governador Juscelino Kubitschek.
O então governador
já candidato a presidente pelo PSD, o maior partido brasileiro, que não chegou
a completar a maioridade, assassinado pela ditadura em 1964. Juscelino queria
me convidar para dirigir a comunicação da sua campanha presidencial.
Mas antes me
avisou e preveniu: "Hélio, não temos dinheiro para nada, se você aceitar,
será o único no comitê, junto com o presidente, embaixador Negrão de
Lima". Respondi imediatamente: "Governador, correr e percorrer o
Brasil todo, durante um ano, é proposta irrecusável". JK ficou
satisfeitíssimo, eu também.
Logo depois da
morte de Vargas (suicídio politicamente genial como chamei sempre, desde o dia
seguinte da tragédia) JK pediu audiência ao vice que assumira, Café Filho:
" Presidente vim lhe comunicar que serei candidato a presidente".
Café Filho agradeceu e respondeu: "Não terei candidato, ficarei
neutro". Mas logo lançava o nome do general Juarez Távora, Chefe da Casa
Militar.
A campanha foi
excelente, conhecemos "grotões e igarapés", como Tancredo Neves
definiria depois. JK ganhou muito bem, apesar da máquina governamental ser
jogada totalmente no propósito de eleger o general. Antes de posse vieram os
dois golpes de 11 de novembro de 1955. Um para não dar posse ao vencedor, e o
outro para refender a vontade do eleitor.
Reconhecida sua
vitória e com a posse garantida, JK resolveu viajar como "presidente
eleito e ainda não empossado". Marcou a viagem para 2 de Dezembro, me
falou "Hélio, vou viajar, apenas eu e mais três pessoas. (Dois do
Itamarati). Quero convidar você para ir".
Aceitei,
claro,mas disse a Juscelino: "Presidente, é lógico que aceito, mas sou
jornalista, e o senhor é a grande noticia. Por isso quero ficar sempre ao seu
lado". O presidente riu e garantiu: "Você saberá de tudo o que
acontecer no Brasil enquanto viajamos, aqui você verá e saberá de tudo, na
hora".
Viagem maravilhosa, não há dinheiro que pague. Fomos recebidos por reis, rainhas, presidentes e primeiros ministros. Começamos pelo presidente Eisenhower, que se recuperava de um enfarte na bela Ilha de Key West.
JK-Salazar
Não vou contar a
viagem maravilhosa, apenas o que está atualíssimo, 59 anos depois. Fomos
recebidos então pelo ditador, no belo palácio presidencial. Muita gente, mas
num relâmpago, os dois ficaram sozinhos e eu ao seu lado.
Salazar então
disse a JK: ”Presidente, se o senhor quiser governar todo mandato, não faça
reforma cambial, nem se descuide do Banco Central”. Foi surpreendente. Mas logo
as pessoas se aproximaram, a conversa que poderia render muito mais, acabou.
Ficamos algum
tempo circulando, fomos embora. No carro JK me perguntou: “Helio, o que o
presidente Salazar estava querendo dizer?”.
Resposta do
repórter: “Presidente, Salazar é um ditador, Ministro das Finanças nomeado pelo
presidente, general Carmona, que ele derrubaria. Mas antes disso, era um
respeitado professor de Finanças da Universidade de Coimbra”.
JK ficou
visivelmente preocupado, e não apenas durante a viagem.
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