Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

 COMEÇOU A PRIMEIRA REUNIÃO VIRTUAL DA ONU 

HELIO FERNANDES

APESAR DA PANDEMIA  FÍSICA  E POLÍTICA (O SUSPENSE  ENTRE CHINA- ESTADOS UNIDOS, TERRORISMO PERMANENTE) FOI MANTIDA A TRADIÇÃO DO BRASIL FAZER  DISCURSO INAUGURAL, BOLSONARO COMEÇOU A FALAR ÁS 10,43, HORÁRIO DO BRASIL.

TINHA Á DISPOSIÇÃO 20 MINUTOS, DESPERDIÇOU TODOS, TEVE A AUDÁCIA DE DIZER QUE "O BRASIL É EXEMPLO PARA O MUNDO"  A SEGUIR LAMENTOU AS MORTES PELA PANDEMIA.

PELA TRADIÇÃO, FALOU O PRESIDENTE DOS EUA, COM UM DISCURSO ELEITORAL INTERNO, ACUSANDO  A CHINA PELA PANDEMIA,

A REPERCUSSÃO TOTALMENTE NEGATIVA, DO "DISCURSO" DE ABERTURA NA ONU.

FOI COMENTADÍSSIMO  NO BRASIL E NO MUNDO, E PASSADAS 24 HORAS, CONTINUA SENDO MANCHETE DE GRANDES COMENTARISTAS, E PRIORIDADE ABSOLUTA DOS MAIS IMPORTANTES ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO. 

E NENHUM ELOGIO, SÓ CRÍTICAS  DURÍSSIMAS. OS MAIS CARIDOSOS, (NÃO CONFUNDIR  COM CARINHOSOS) USAM E ABUSAM DA IRONIA NEGATIVA.

É CHAMADO LITERALMENTE DE MENTIROSO. ALGUNS  DIZEM OU PEDEM QUE SEPAREM O QUE É FATO DO QUE É VERSÃO  OU IMAGINAÇÃO BLANDICIOSA.

PS- QUANDO JOGA A CULPA DE TUDO QUE ACONTECE  DE ERRADO EM CIMA DE ÍNDIOS E CABOCLOS, ENTÃO AS CRÍTICAS SÃO "UNÂNIMES E CONTUNDENTES". 

É IDENTIFICADO COMO "DELIRANTE", NOVAMENTE MENTIROSO," NEGACIONISTA" E NÃO VAI PARAR TÃO CEDO.

1945/46 fui cobrir a Constituinte. Começou aí meu conhecimento com os 13 deputados comunistas. Conversa com Lamarca. 20 anos depois os bravos guerrilheiros do Araguaia.

Hélio Fernandes

Reprise:

Mocissimo, Secretario-Adjunto da revista “O Cruzeiro”, fui cobrir a Constituinte, convocada logo depois da derrubada do “Estado Novo”. Eclético, apaixonado por muita coisa, fui um dos 17 jornalistas que contaram o que acontecia. (16 importantes e já mortos) Conheci até com muito prazer os 13 deputados comunistas e o senador Luiz Carlos Prestes. (Este com menos diálogo).

A Constituinte levou quase 8 meses, promulgada a Constituição de 1946, (a mais importante aquela época), depois se separaram, Câmara para um lado, Senado para o outro. Continuei indo diariamente até 1948, quando o PCB teve o registro cassado. Avisados pelo grande Sobral Pinto, desapareceram na clandestinidade. Nunca mais encontrei nenhum deles, alguns saíram do Brasil.

Um dia estou no jornal, toca o telefone, a pessoa não quis se identificar, disse apenas: “estou na esquina da Avenida Rio Branco com a Sete de setembro. Daí da Lavradio até aqui é rápido, espero meia hora”. O tom era de autoridade, intensidade, credibilidade, nem pensei em recusar. Cheguei lá, uma multidão esperando o sinal abrir para atravessar, reconheci logo um antigo líder comunista. O sinal abriu, se juntou aos pedestres, eu seguindo.

Sem quase olhar para mim, foi falando: “preciso falar com você, urgente. Ele mora no Cachambi, você nasceu no Meyer, conhece tudo ali. Vou te dar o endereço, decora e me devolve. É uma casa velha, não toque a campainha, ele saberá que você chegou a 1 hora da tarde”.

Me deu o papel, eu conheci a rua, o Cachamby é uma espécie de subúrbio do Meyer, falou: “Não vá de carro, deixe no Jardim do Meyer, entre pela Rua do Corpo de Bombeiros, em 10 minutos você estará com o Lamarca”.

Chegamos ao outro lado, na calçada me pediu o papel, viu para que lado eu ia, foi para o outro. Olhei, ele estava picando o papel e jogando numa lixeira. Aula de clandestinidade.

No dia seguinte outra aula, mas de conhecimento e de convicção sobre o que estava fazendo. Tudo ocorreu como o intermediário falou. Mandou que eu sentasse, falou em tom de quem sabe que não pode ser convencido ou persuadido a mudar de ideia.

Começou: “Helio, a gente não se vê há mais de 10 anos, acompanhei de longe a tua carreira, é exatamente o que esperávamos. E você desenvolveu a competência de analista, por isso quero conversar com você”.

Continuou: “Estamos preparando uma luta de guerrilha, nos moldes do que fez o Prestes. Não aguentamos mais, os companheiros estão desaparecendo, presos, torturados, assassinados. Não queremos morrer assim, preferimos morrer lutando”. Parou, ficou me olhando como se dissesse, “é a tua vez”.

Perguntei. “quantos vocês são?”. Resposta, “mais ou menos 60”. Comentei: “Eles são 60 mil, o Exercito vai se jogar inteiro no combate. E a comparação com a Coluna Prestes, lembre, já se passaram 40 anos, multiplique por muito as dificuldades que tiveram”.

Silêncio, lembrei para ele, que esperava, o que o “exercito fizera em Canudos”. Não queria convencê-lo, sabia que já tomara a decisão, nada podia assusta-lo. Examinamos mais os riscos, não era um desesperado pelo combate, mas não admitia rendição de modo algum.

Conversamos mais um pouco, falou: “sabia que você iria analisar, nos dois anos em que estivemos juntos, conheci bem você. Foi ótimo te ver, saia pelos fundos, entrou pela frente, não pode repetir”. Abraço realmente fraterno, não disse aquelas tolices, “isto fica entre nós não fale com ninguém”.

Andei olhando sem me virar, em 10 minutos estava no carro, em menos de dois meses chegavam notícias das barbaridades que fizeram com esses combatentes da autenticidade da luta, que só eram chamados de “guerrilheiros armados”.

Foram dizimados. O SNI localizou Araguaia com um serviço de “inteligência” jamais visto. O Exercito se preparou para enfrentar um movimento sem igual, eram apenas 60 homens. A mobilização aérea, principalmente com helicópteros, total.

Usaram também a traição em alta escala. Morreram todos de forma bárbara, cruel. Selvagem. Alguns chegaram a levar 42 tiros, muitos pelas costas, segundo o exame pericial. Outros foram assassinados cara a cara, desarmados antes de serem inacreditavelmente despedaçados.

Este relato, é lancinante, degradante, emocionante, não gostaria de lembrar. Mas é história pura, não apenas memória.

Um comentário:

  1. Hélio Fernandes. Este é um relato histórico. Um massacre. Lembro do filme Spartacus e constato, que a vida continua tudo igual. Você citou Canudos, sim o massacre, dos seguidores de Antônio Conselheiro.
    Tivemos também o massacre dos revoltosos ( Balaiada, Alfaiate, Chibata). É correto afirmar, que somos um país pacífico?
    Meus parabéns por compartilhar o contexto o histórico, uma aula de Brasil. Em nenhuma sala de aula deste país, esses fatos lancinantes de seriam comentados e riscutidos.

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