Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 10 de março de 2021

CORONÉIS DA RESERVA APENAS COADJUVANTES, AGORA FALAM ABERTAMENTE COMO “PAPAGAIOS DA TORTURA”. VOU CITAR GENERAIS IMPORTANTES, COM NOME E SOBRENOME, QUE MANDAVAM DE VERDADE, DAVAM AS ORDENS    

HELIO FERNANDES

*Publicações históricas no Centenário do jornalista

PARTE II

Os que estavam no poder, eram divididos em sensatos e insensatos 

Falavam muito em “linha dura”, mas isso era forma de simplificar. “Linha dura” era composta por aqueles que logo queriam torturar e matar. Os outros, eram os que acreditavam em diálogo, todos, milhares, iriam sendo “passados para a reserva, como traidores da revolução”. Que iria sendo identificada com sua própria fisionomia de golpe.

Depois de um tempo de silêncio, o general falou para um coronel: “Onde está o carro que vai levar o jornalista?”. Uma quase revelação, eu iria para algum lugar, poderia ser bom ou ruim. O carro chegou, me levaram até ele, Fiuza disse para o coronel: “Vá com ele, não quero que desapareça pelo caminho e nos acusem e culpem”. 

Parecia um destino razoável, mas fiquei ainda sem saber. No carro o coronel (de uma grande família de militares de carreira) me disse: “Vamos para o Hospital Central do Exército”. Mas terminou com uma declaração surpreendente: ”Ao senhor não vai acontecer nada”. Naturalmente com outros ACONTECERIA.

Fiquei lá uma semana, a única satisfação era a conversa com o médico. Sobrinho de Manoel Bandeira, contava histórias admiráveis dele. Uma semana depois fui libertado. Na portaria do hospital, em Bonsucesso, me entregaram mala com roupas. Provavelmente minha família sabia, não me falaram nada. Peguei um taxi, logo estava em casa. 

Herzog foi assassinado pelos insensatos 

Preso na TV-Cultura, não era para ser morto. Mas seus prisioneiros obedeciam ordens do poderoso general Eduardo D’Avila Mello, comandante do II Exército. Já fora advertido pelo general Geisel, “não quero violência contra ninguém”.

Quatro Estrelas, comandante do II Exército (que englobava São Paulo), suas ordens foram as mais específicas e minuciosas possíveis. Acreditava que nada iria lhe acontecer. Mas aconteceu.

Quando soube da morte (assassinato) do jornalista, Ernesto Geisel mandou preparar o avião, “vou para São Paulo”. Muitos queriam ir com ele, foi duro e definitivo: “Vou sozinho”. Chegou em São Paulo mandou chamar o general Ednárdo, disse imediatamente: “O senhor está demitido, vai chegar do Rio o novo comandante do II Exército”.

O general Ednárdo não acreditou, nunca um general comandante do Exército foi demitido dessa maneira. Ficou parado, perplexo, Geisel fulminou: “Pode se retirar, o senhor não tem mais nada a fazer aqui”. 

Confissão do general Cordeiro de Farias 

Na minha casa, só ele e o grande criminalista Oscar Pedroso Horta, Ministro da Justiça de Jânio, e talvez a única pessoa a saber da “renúncia”, Cordeiro contou o seguinte. Foi interventor no Rio Grande do Sul, e depois governador de Pernambuco, eleito pelo voto direto. Fez muitos amigos, de vários setores.

Um dia recebeu telefonema do Recife. Um amigo advogado, contava que seu filho de 21 anos estava preso no DOI-Codi, apavorado que fosse torturado. Ligou logo para Orlando Geisel, pediu providências. Relato integral de Cordeiro de Farias: “Ele me disse, vá lá na Barão de Mesquita, mostre a identidade de general, chame o coronel, (foi dizendo os nomes) diga que fala em meu nome, que em mandei soltar logo o estudante”.

Continuando: “Fui, não me deixaram nem passar da portaria, telefonei de volta para o Ministro Geisel: Você não manda nada, não pude nem entrar, nem procurar o coronel da tua confiança”. O general-Ministro perguntou onde eu estava, mandou esperar. Chegou fardado, foi demitindo todos que apareciam. O coronel encontrou o menino que procurávamos, conseguiu retirá-lo.

E Cordeiro de Farias, ainda emocionado: “Não adiantava mais nada, ele já fora torturado”. O coronel explicou que procuravam informações. E Pedroso Horta, revoltado: “Que informações poderiam obter de um estudante de 21 anos?”. 

Os personagens do “Pasquim”, presos, mas na Vila Militar 

Quero terminar com este episódio que mostra a diferença do Exército dos generais ambiciosos e torturadores e dos oficiais que repudiavam o golpe, quase todos perseguidos e expulsos.

Os jornalistas do “Pasquim” ficaram num Batalhão de Paraquedistas. 60 dias de prisão. Mas o comandante, duas ou três vezes por semana, “pernoitava” no quartel, jantava com alguns. Que diferença.

Por hoje acho o suficiente. Fui preso outras vezes, cassado, sequestrado, desterrado, proibido de escrever, e mais e mais. Os fatos que estão aqui, tiveram o repórter como personagem, observador e participante. 

9 comentários:

  1. Hélio Fernandes, parabéns por sua luta, por sua vida, pelo amor incondicional ao Brasil! Acompanho seus artigos a mais de 30 anos! Era office boy, nas filas dos bancos lotados sempre lia a valente Tribuna da Imprensa! Siga em paz meu amigo! Nunca lhe conheci pessoalmente, mas ao ler seus artigo via no país um cidadão que jamais se deixou derrotar, não importando os gingantes do atraso que governassem o Brasil! Sempre escrevia a verdade com coragem! Sua coragem, inspiradora, me faz acreditar num país diferente desse que vivemos! Você vive em meu coração e dos que acreditam num país soberano, democrático e com justiça social! Sentiremos muito a sua falta!

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  2. Faço minhas as palavras do Roberto Ribeiro!
    Hélio Fernandes, guerreiro que lutou o bom combate! Vou sentir muito sua falta! Obrigada por me ensinar tanto e por estar sempre na trincheira por um Brasil melhor! " as pessoas não morrem, ficam encantadas".

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  3. Ontem o grande jornalista e brasileiro Helio Fernandes nos deixou.
    Que descanse em paz e que toda sua luta e trajetória sirva de exemplo

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  4. Fui ao cemitério da Penintência, mas o corpo já havia sido cremado. Muita saudade que somente vai fazer crescer.

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  5. Existem pessoas que não deveriam morrer. Mas...
    Hélio Fernandes vai fazer falta.

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  6. Grande JORNALISTA HÉLIO FERNANDES, que falta fazes! Ainda guardo o jornal impresso da TRIRIBUNA DA IMPRENSA, o qual recebi de presente pelos Correios quando este significativo jornal anunciara que iria fechar as edições impressas e continuar com um Blog, que lhe permitiu publicar on line os seus escritos incansáveis e lúcidos diante de uma incontestável memória que os anos não puderam apagar. Parabéns, guerreiro, você sempre será lembrado peças suas ações de coragem e lealdade para com o povo brasileiro, tenha um repouso merecedor nesse Céu Empíreo, que o bom Deus o receba em plenitude.

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  7. PREDESTINAÇÃO.... Eu creio enfaticamente. Há alguns dentre os humanos que ao morrer viram LENDA .
    Que YAH seja LOUVADO SEMPRE por nos dar humanos como nosso amigo...HF por um pouco de tempo.
    Parabéns HF por sua jornada terrestre.
    Agora segue o juízo eterno. Que é para TODOS...


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  8. Como cidadão comum, Hélio certa vez me dera espaço na Tribuna, para uma matéria. Sempre o via em Programas da antiga Tv Educativa.

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